Educação

“É um assalto”, diz pesquisadora que perdeu bolsa da Capes

Recém-chegada a São Paulo, Adriana Lopes soube no dia da matrícula que a vaga não estava mais disponível: “me sinto lesada”

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Adriana Lopes, 29 anos, desembarcou em São Paulo no sábado 4 de maio, com uma certeza: iniciar sua carreira como pesquisadora pelo Departamento de Botânica da USP (IB-USP), onde conquistou uma bolsa de mestrado. A notícia de que havia sido contemplada saiu em abril, e fez com que ela deixasse a cidade serrana de Santa Teresa, no Espírito Santo, local onde morava há 10 meses e atuava em um projeto de pesquisa no Instituto Nacional Mata Atlântica (INMA), financiado pela Fapes (Fundação de Amparo à Pesquisa pelo Espírito Santo). Recebia uma bolsa de 1.500 reais.

Adriana junto à equipe de pesquisadores do INMA, no Espírito Santo. Foto: Divulgação

No dia de efetuar a matrícula no IB-USP, na segunda-feira 6, a surpresa: a sua vaga não estava disponível. Foi a única informação que ela obteve da pessoa que a atendeu, “tão perdida quanto”, afirma. Adriana só teve a dimensão do que estava acontecendo dois dias depois, quando leu o ofício divulgado pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), responsável pelo pagamento de sua bolsa, o mesmo valor de 1.500 reais que recebia no Espírito Santo.

No documento, a Capes afirma que o bloqueio orçamentário imposto pelo Ministério da Economia ao Ministério da Educação resultou em um contingenciamento. “Com a finalidade de garantir o pagamento de todos os bolsistas dos programas de apoio institucional atualmente cadastrados, a Diretoria Executiva (DEX) da Capes decidiu recolher as bolsas e taxas escolares não utilizadas no último mês de abril”.

Caso a situação não se reverta, Adriana não tem como se manter em São Paulo. O valor da bolsa seria integralmente utilizado para custear uma república, dividida com outros pesquisadores, além de transporte e alimentação. A saída será voltar para sua cidade natal, Prado, no extremo sul da Bahia, sem dinheiro e qualquer perspectiva iminente de se desenvolver em sua área.

“Na minha cidade não tem pesquisa e a universidade mais próxima está a duas horas e meia de viagem”, conta a jovem, graduada em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb). “Me sinto lesada, é como se eu tivesse sofrido um assalto, mas não pudesse registrar um boletim de ocorrência”, lamenta.

Bolsas suspensas

A frustração de Adriana é compartilhada por outros pesquisadores de mestrado, doutorado e pós-doutorado no País. Embora a Capes não tenha divulgado o tamanho do corte em número de vagas e quantidade de orçamento, as instituições já começam a medir suas perdas.

O Instituto de Biociências da USP, formado pelos departamentos de Botânica, Ecologia, Fisiologia, Genética e Zoologia teve redução de 18 vagas no mestrado, 18 no doutorado e três no pós-doutorado. Na Universidade Federal do Ceará, 61 bolsas de pesquisa serão extintas.

 

A Capes distribui cerca de 200 mil bolsas de mestrado e de doutorado diretamente às instituições públicas e privadas que possuem cursos de pós-graduação stricto sensu avaliados pela agência e com nota igual ou superior a 3. As bolsas da Capes são institucionais, ou seja, são distribuídas às instituições de ensino superior (IES), que repassam aos alunos por meio de processo seletivo. É a Capes, no entanto, a responsável pelo pagamento da bolsa, feito via depósito diretamente na conta bancária do bolsista.

Estudantes do mestrado recebem 1.500 reais. Aos bolsistas de doutorado e pós-doutorado é pago, respectivamente, 2.200 reais e 4.100 reais.

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