Drauzio Varella

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Médico cancerologista, foi um dos pioneiros no tratamento da AIDS no Brasil. Entre outras obras, é autor de "Estação Carandiru", livro vencedor do Prêmio Jabuti 2000 na categoria não-ficção, adaptado para o cinema em 2003.

Opinião

Mesmo com predisposição genética, vida saudável reduz risco de Alzheimer

Pesquisa mostra que quem não fuma, bebe com moderação, se exercita e se alimenta adequadamente tem menor probabilidade de ter a doença

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De uma demência rara que se instalava entre os poucos que ousavam passar dos 60 anos, a doença de Alzheimer transformou-se num dos maiores flagelos da senectude. Estudos conduzidos em diversas partes do mundo mostram que aos 80 anos cerca de 20% a 40% das mulheres e homens já apresentam sinais claros da doença. Daí em diante, esse número não para de crescer. Hoje, é difícil encontrar uma família em que não haja um caso. Alzheimer, a mais prevalente das demências, tornou-se um problema grave de saúde pública mundial, com implicações individuais, familiares, econômicas e sociais.

Na Conferência Anual da Associação Internacional de Alzheimer, ocorrida no início de julho, um grupo de pesquisadores de Chicago apresentou um estudo no qual foram acompanhadas 2,5 mil pessoas, por cerca de dez anos, com a finalidade de avaliar o impacto de diversos fatores ligados ao estilo de vida na instalação da doença.

Os participantes responderam questionários enviados periodicamente, para avaliar cinco tipos de atividades diárias que já demonstraram interferir com o risco de adquirir demência: 1) dieta, 2) fumo, 3) atividade física, 4) quantidade de álcool ingerida habitualmente, 5) níveis de atividade cognitiva.

Os resultados mostraram que aqueles que não fumavam, consumiam dietas com baixos teores de gordura, bebiam com moderação (no máximo dois drinques por dia para os homens ou um drinque diário no caso das mulheres), praticavam pelo menos 150 minutos semanais de atividade física de intensidade moderada ou intensa e mantinham estímulos cognitivos (leitura, escrita, aprendizado etc.) apresentavam menor probabilidade de desenvolver Alzheimer.

Até aqui, nenhuma novidade: diversos estudos já haviam sugerido que esses fatores reduziam a probabilidade ou retardavam o aparecimento da enfermidade. O achado novo foi a demonstração de que, quanto maior o número de fatores ligados ao estilo de vida saudável, mais baixo o risco de Alzheimer. Aqueles que seguiram dois ou três desses fatores associados ao estilo saudável, reduziram em 35% a chance de receber o diagnóstico da demência. Essa redução de risco atingiu 59% naqueles que adotaram quatro ou cinco dos indicadores citados.

Quando os autores isolaram os participantes portadores do gene ApoE4, associado à predisposição genética, o mesmo efeito protetor aditivo ficou documentado. Da mesma forma, a proteção aditiva dos fatores citados repetiu-se quando os dados foram ajustados para a idade e o nível educacional.

A demonstração de que adotar dieta de baixo conteúdo gorduroso, praticar atividade física com regularidade, moderação no consumo de álcool, ficar longe do cigarro e manter a cognição ativa por meio do aprendizado permanente podem ter efeito aditivo na prevenção da demência de Alzheimer traz esperança para os mais velhos – mesmo para aqueles com predisposição genética –, uma vez que envolvem a adoção de medidas ao alcance de todos.

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