Opinião

A América Latina e a sombra de mais uma invasão imperialista

Não é a Venezuela a principal vítima da ingerência externa – ilegítima e ilegal – mas o Brasil, o país mais rico e populoso da região

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“Quando os elefantes brigam, quem sofre é a grama”.
Provérbio africano.

O imperialismo está prestes a, mais uma vez, violar a América Latina. Não se trata da agressão a um único país da região, irmão, vizinho e pacificamente fronteiriço. Trata-se da violência mais brutal contra toda a América Latina e o Caribe, buscando impor a falácia de que, na região, a soberania pertence apenas a um estado, os EUA. A todas as demais nações do continente, caberia apenas uma soberania de tolerância, complacente, um mito de hinos desprovidos de qualquer significado.

Nesse sentido, não é a Venezuela a principal vítima da ingerência externa – ilegítima e ilegal – sob qualquer ângulo que se analise, mas o Brasil, o país mais rico e populoso da região. Não são os venezuelanos os principais humilhados: são os brasileiros. Não são os que resistem ao império da força, são aqueles que por ela se deixam dominar, pois uma pedra contra um tanque invasor tem a mesma força de resistência, quando a mão defende a liberdade e a autodeterminação do povo, da nação, da Pátria Grande.

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Resistam ao golpe irmãos e irmãs, pois a derrota é amarga: eleições fraudadas; riquezas saqueadas; assassinatos em número superior a qualquer guerra externa.

Resistam aos que consideram ser seu o que é do outro; aos que não dão valor à vida alheia, por serem meros prepostos da indústria armamentista; aos que fazem da justiça uma arma tão suja quanto os próprios corações e mentes, lesando a pátria impunemente, quando mancomunados estão os senhores de fora e de dentro.

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Resistam, pois vocês são o esteio da fragilíssima ordem internacional; modelo de nação que apenas busca que seus cidadãos gozem minimamente as riquezas que sempre lhes pertenceram, mas foram sistematicamente roubadas, por um império voraz, egoísta e mesquinho; resistam porque a injustiça deve ser combatida, sendo ilegítima sob qualquer falsa roupagem, até a da legalidade ilegítima; resistam por aqueles que vemos a pátria entregue aos que dela não sabem cuidar, apenas lesar.

Não permitam que a Carta das Nações Unidas – que prevê neutralidade, independência e imparcialidade para toda e qualquer ajuda humanitária – seja conspurcada por “diplomatas” e militares que de verdadeira assistência humanitária nada parecem saber.

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A politização da assistência humanitária para a Venezuela demonstra que o intuito é simplesmente propagandístico, provocatório, mero pretexto para a guerra, nunca a real assistência aos necessitados, como bem denunciaram o Núncio Apostólico na Colômbia – Embaixador do Vaticano naquele país, Monsenhor Luís Mariano Montemayor, e a Subsecretária-Geral das ONU, a nigeriana Amina Mohammed. Vale notar que a Cruz Vermelha Colombiana já apontara a politização da ajuda, razão pela qual se recusou a tomar parte na farsa. Por motivo idêntico, a Caritas colombiana também se recusou, embora ambas tenham mantido as operações de assistência humanitária à Venezuela, de forma independente e apartidária.

Assistimos, assim, a mais uma dilapidação da imagem externa do Brasil. Vale observar que o país saiu do ranking de zero operações humanitárias em 2005, para chegar a ser o sétimo maior parceiro humanitário da ONU, em 2010. Mais de 50 países em todos os continentes foram atendidos, sempre que se apresentasse situação de fome aguda. Na quase totalidade dos casos, as operações foram feitas por meio das Nações Unidas e seus organismos especializados, como o Programa Mundial de Alimentos (PMA), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), entre outros.

Demais, sempre que possível, a cooperação humanitária foi dirigida à alimentação escolar, de sorte a permitir maior frequência escolar, melhor qualidade nutricional e maior capacidade cognitiva para as crianças afetadas pelos desastres sociais ou ambientais: três ganhos com uma única ação.

Ao lado disso, a doação em produtos permitia conhecimento da produção agrícola brasileira, principalmente de arroz e leguminosas, como o feijão. Não menos importante, garantia internamente o preço para os produtores – inclusive os grandes – multiplicando os ganhos e demonstrando que, com justiça, o pão é repartido, todos se saciam e a fartura se faz, como Cristo simbolizou.

Mas à independência, sobreveio a dependência: Non ducor, duco (não sou conduzido, conduzo), é a incisão latina no brasão da cidade de São Paulo. Neste momento, porém, somos conduzidos, manietada não apenas a cidade, mas o estado e todo o país; atrelados a outros interesses, nossos mercados internos e externos são acaparados; nossa imagem, vilipendiada; nossa população, exterminada à bala ou à míngua pela retirada de direitos, em benefício de um elefante republicano obeso, violento, suicida, que, se necessário, exigirá o sangue brasileiro, para não verter o próprio, em uma guerra que custará lágrimas e princípios e, para o Brasil e a América Latina, só trará retrocessos históricos, de mais de 50 anos.

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