Política

Berço do clã Bolsonaro, Rio de Janeiro vira campo minado para o presidente

Questões envolvendo Flavio Bolsonaro e ambições políticas de Wilson Witzel e João Doria explicam o fenômeno

Wilson Witzel e Jair Bolsonaro (Foto: Marcos Corrêa/PR)
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Jair Bolsonaro nasceu no interior paulista, mas fez carreira política no Rio de Janeiro. Na campanha presidencial, deu uma surra no petista Fernando Haddad no eleitorado fluminense, 66% a 33%. Agora vê o Rio virar um campo minado, graças aos rolos do filho Flavio, aos sonhos presidenciais do governador Wilson Witzel e aos mesmos sonhos de outro governador, João Doria Jr., de São Paulo.

Por obra do tucano Doria, o PSDB do Rio acaba de filiar o advogado Gustavo Bebianno, que na eleição comandou o PSL, ex-partido de Bolsonaro, e foi secretário-geral da Presidência com o ex-capitão. Bebianno está na bronca com o presidente desde a demissão e outro dia comentou que a perseguição dele contra a Folha daria impeachment. É dono de vários segredos bolsonaristas.

O PSDB do Rio é dirigido por outro ex-aliado de Bolsonaro que guarda segredos, entrou no partido pelas mãos de Doria e trabalha pela ambição presidencial do tucano. É o empresário Paulo Marinho, em cuja casa o ex-capitão gravou propagandas eleitorais. Ele tem motivo para querer sabotar o clã Bolsonaro. É suplente de Flavio no Senado e herdaria a vaga, se o filho do presidente fosse cassado.

Há risco de cassação por causa das investigações do caso Fabricio Queiroz. Elas foram retomadas após o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar, a pedido de Flavio, se o Ministério Público (MP) poderia usar, sem autorização judicial, dados do ex-Coaf, atual Unidade de Inteligência Financeira (UIF), órgão de combate à lavagem de dinheiro. O STF decidiu que sim.

Dados do ex-Coaf sobre a vida bancária de Queiroz abastecem o MP do estado do Rio nas apurações sobre o ex-PM amigo de Jair Bolsonaro e sobre Flavio. Serviram de base para os promotores pedirem à Justiça, e conseguirem em maio, a quebra dos sigilos bancário e fiscal do senador, de Queiroz e de quase 90 pessoas físicas e jurídicas.

A investigação é conduzida por promotores ligados diretamente ao gabinete do chefe do MP do Rio, Eduardo Gussem. Este foi reconduzido ao cargo em janeiro de 2019 pelo governador do estado e tem se dado bem com ele. Witzel é outro interessado na desgraça bolsonarista. Diz a gente de sua confiança que o presidente não termina o mandato e que concorrerá à cadeira dele em 2022.

João Doria e Bolsonaro

Witzel é um incômodo para o ex-capitão no caso Marielle Franco, ao menos é o que o presidente pensa. As investigações do assassinato são comandadas pela Polícia Civil do Rio, cujo chefe, o delegado Marcus Vinícius Braga, foi nomeado por Witzel. Foi em depoimento a essa polícia que um porteiro citou Bolsonaro, embora depois tenha voltado atrás perante a Polícia Federal (PF).

Bolsonaro acusou Witzel de manipular a investigação. “Quem está atrás disso? Não tenho dúvida: governador Wilson Witzel, que só se elegeu graças ao meu filho Flavio Bolsonaro. Colou nele o tempo todo, chegando um mês depois e virou inimigo nosso”, disse no início de novembro. “Tudo quanto é amigo meu estão sendo investigados agora lá no Rio.”

As movimentações de Doria também já mereceram comentários públicos do ex-capitão. Em setembro, Bolsonaro afirmou que o tucano não tem chance na eleição presidencial de 2022, por falta de “apoio popular” e por ser uma “ejaculação precoce”, daí que Doria deveria mirar a campanha seguinte, de 2026.

Flávio Bolsonaro e o ex-assessor, ex-amigo, ex-morista e ex-policial Fabrício Queiroz (Foto: Reprodução)

“No Brasil, a centro-esquerda tem uns 30% desde os anos 1940. O que pouco se fala, e isso é muito importante, é da disputa no campo da direita hoje. O Bolsonaro será esvaziado?”, diz o cientista político Claudio André de Souza, da Universidade Federal da Bahia, autor do livro Para onde vai a política brasileira?, de 2018.

Se depender dos direitistas Doria e Witzel, Bolsonaro será mais do que esvaziado.

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