Política
Glenn Greenwald rebate denúncia do MPF: “É um ataque à imprensa livre”
Editor do site The Intercept Brasil disse que procurador usa cargo para atacar inimigos políticos
O editor do site The Intercept Brasil Glenn Greenwald publicou um vídeo de resposta à denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra ele e mais seis pessoas no âmbito da Operação Spoofing. A denúncia é assinada pelo procurador Wellington Divino de Oliveira, o mesmo que denunciou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, por calúnias contra o ministro Sergio Moro.
No entendimento do MPF, houve prática de organização criminosa, lavagem de dinheiro e interceptações telefônicas ilegais pelos investigados. Embora tenha sido denunciado, Greenwald não havia sido indiciado pela Polícia Federal. Segundo o órgão, provas demonstram que o jornalista auxiliou, incentivou e orientou o grupo durante o período das invasões.
Greenwald acusou o procurador de utilizar seu cargo público para atacar inimigos políticos. Além disso, ressaltou que a Polícia Federal concluiu que não houve crime por sua parte.
“É um ataque contra a imprensa livre, obviamente, contra a nossa reportagem, mas também contra a Polícia Federal e o Supremo Tribunal Federal, que disse que eu não posso ser investigado, muito menos denunciado, porque é uma violação do direito constitucional de uma imprensa livre”, queixou-se.
O jornalista também relacionou o caso ao governo do presidente Jair Bolsonaro.
“Isso é obviamente uma retaliação pelo governo Bolsonaro. Nós nunca vamos ser intimidados para ninguém abusando o aparato do Estado. Nós vamos continuar a fazer o nosso jornalismo, estou fazendo o nosso trabalho agora para a próxima reportagem e vamos sempre defender a imprensa livre”, afirmou.
Sobre a notícia da denúncia do MPF: é um ataque a liberdade de imprensa, o STF, as conclusões da PF e a democracia brasileira.
Nos vamos defender uma imprensa livre. Não seremos intimidados pelo abuso do aparato do estado nem pelo governo Bolsonaro. pic.twitter.com/bQ8smWw2sm
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) January 21, 2020
Em nota, o site The Intercept Brasil argumentou que os diálogos utilizados pelo MPF na denúncia são rigorosamente os mesmos que já haviam sido analisados pela Polícia Federal durante a Operação Spoofing, e não houve qualquer imputação de conduta criminosa a Greenwald.
O site escreve ainda que a Polícia Federal concluiu que “não é possível identificar a participação moral e material do jornalista Glenn Greenwald nos crimes investigados”.
“Causa perplexidade que o Ministério Público Federal se preste a um papel claramente político, na contramão do inquérito da própria Polícia Federal. Nós do Intercept vemos nessa ação uma tentativa de criminalizar não somente o nosso trabalho, mas de todo o jornalismo brasileiro. Não existe democracia sem jornalismo crítico e livre”, pronunciou-se o site.
O analista de sistemas Edward Snowden também protestou. Famoso por tornar públicos os detalhes de programas do sistema de vigilância global americano NSA, Snowden comparou o caso à ação contra o jornalista do Wikileaks, Julian Assange.
Those who looked the other way because they personally disliked Julian Assange when the DOJ indicted him under a legal theory that merely publishing clear, public-interest journalism could constitute multiple Espionage Act violations should reconsider where that road leads. https://t.co/KrQ7rLzKJr
— Edward Snowden (@Snowden) January 21, 2020
No Twitter, Snowden escreveu que o Departamento de Justiça americano indiciou Assange sob uma “teoria jurídica de que somente publicar claramente um jornalismo de interesse público poderia constituir múltiplas violações da Lei de Espionagem”. O analista compartilhou uma postagem em que um repórter da Vice News, David Uberti, faz a mesma comparação.
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